
Com a população dividida e a oposição mobilizada, o futuro
presidente tem o desafio de construir consensos políticos para comandar o país
Pela vontade de 57 milhões de brasileiros, o capitão
reformado Jair Bolsonaro (PSL) subirá a rampa do Palácio do Planalto no dia 1º
de janeiro de 2019 para suceder Michel Temer. Vencedor do segundo turno contra
Fernando Haddad (PT), o futuro presidente obteve os quatro anos de mandato
dentro das regras democráticas. Dele, espera-se, portanto, um governo
enquadrado pela Constituição de 1988.
O resultado da eleição projeta mudança significativa na
política brasileira. Situado na extrema-direita do espectro ideológico nacional,
Bolsonaro altera a correlação das forças que disputam o poder no país.
Protagonistas nas últimas décadas, partidos como MDB, PT e PSDB terão de ceder
espaço para aliados do próximo presidente, parte deles concentrada no PSL.

Deve-se esperar também novo perfil de ministros na Esplanada
e de assessores presidenciais. Para começar, é certa a ascensão de número
expressivo de militares para os primeiros escalões do governo. Mas, apesar da
retórica contra a política do presidente eleito, a composição da futura equipe
também terá parlamentares. Está definido, por exemplo, que o deputado federal
Onyx Lorenzoni (DEM-RS) será o ministro-chefe da Casa Civil.
Nas próximas semanas, os brasileiros saberão se Bolsonaro,
de fato, vai montar uma equipe sem fazer loteamento de cargos com os partidos.
Dependente do Congresso para aprovar leis e mudanças na Constituição, o presidente
precisará negociar com os políticos para administrar o país.
Desafios
Sem experiência de governo e com pouco prestígio na cúpula
do Congresso, apesar de sete mandatos de deputado federal, o presidente eleito
ainda terá de provar capacidade de liderar uma mobilização política suficiente
para recolocar o Brasil no caminho do desenvolvimento.
Apesar da vitória folgada sobre Haddad, Bolsonaro também
terá o desafio de aprender a lidar com a oposição. Mesmo minoritárias, as
bancadas parlamentares terão força para incomodar e, em muitos casos,
atrapalhar o futuro governo.
No Senado, por exemplo, o MDB permanecerá isoladamente como
a maior bancada, com 12 representantes. Nome mais forte do partido, o matreiro
Renan Calheiros (AL) conquistou mais oito anos de mandato e, em uma amostra de
como pretende agir, avisou que o governo Bolsonaro vai “fazer água” no segundo
semestre de 2019.
Nas ruas, o futuro presidente encontrará dificuldades para
manter a mobilização da corrida ao Planalto e das comemorações da vitória.
Mesmo derrotada, parte importante da esquerda juntou-se a Fernando Haddad na
campanha em torno de bandeiras frontalmente contrárias às propostas de
Bolsonaro, como a defesa de direitos humanos, de minorias e da universidade
pública.
A adoção dos livros como símbolo da campanha presidencial do
petista, por exemplo, inspirou eleitores a levarem exemplares para a votação.
Em um país com educação precária – mais um desafio para o próximo chefe de
Estado –, essa parece uma maneira eficiente para chamar a atenção dos futuros
governantes.
Papel da oposição
Para as forças políticas vencidas pelo candidato do PSL, os
próximos anos serão de reflexão pelos erros cometidos e de reorganização das
estratégias. A subordinação da campanha de Haddad ao ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva mostrou-se um equívoco anunciado, pois todas as pesquisas
apontavam dificuldades para um petista ganhar de Bolsonaro no segundo turno.
Mesmo assim, Lula insistiu em manter controle da disputa ao
Executivo nacional. Como consequência de sua vontade, Haddad só foi lançado
candidato no início de agosto e, na prática, o tempo disponível até os dias de
votação revelou-se insuficiente para o ex-ministro da Educação ultrapassar
Bolsonaro. Desta vez, a estratégia do líder máximo do Partido dos Trabalhadores
fracassou.
Embora o candidato do PT tenha obtido 47 milhões de votos, a
aliança em torno dele não conseguiu agregar apoios suficientes para vencer a
eleição. Assim, o país viu a direita ideológica voltar ao poder depois de mais
de três décadas afastada.
Por fim, espera-se do presidente eleito postura menos
belicosa do que a adotada como deputado e na campanha. O estímulo ao uso de
armas e as ameaças físicas a adversários incentivam a violência dos seguidores
de Bolsonaro.
Nesse caminho, certamente, o Brasil não obterá o consenso
mínimo necessário para avançar na política e resolver os problemas da economia.
O capitão reformado terá, nos próximos quatro anos, a tarefa de acalmar os
ânimos da população e fazer o país crescer. Pela forma com que chegou ao
Palácio do Planalto, essa parece ser uma das missões mais difíceis para o
futuro presidente.
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