GLOBOESPORTE.COM publica histórias de torcedores, jogadores e jornalistas vividas na velha versão do estádio baiano para a Copa do Mundo
Quando o calendário apontar o dia 7 de abril de 2013, o estádio da Fonte Nova, agora “arena”, estará outra vez nos braços do povo baiano. A partir desta data, a Fonte estará aberta a receber novas histórias escritas não só dentro do gramado, mas principalmente nas arquibancadas. Entre 1951 e 2007, dezenas de gerações cresceram como herois de cimento. Chegando pelo Dique do Tororó ou Ladeira da Fonte, milhares de baianos cresceram com a mística da Fonte Nova.
A conquista baiana da primeira competição nacional em 1959, a quase marcação do milésimo gol de Pelé em 69, o inédito heptacampeonato estadual do Bahia de Douglas, Beijoca e cia na década de 70, o incrível faro de gol do nigeriano Ricky com a camisa do Vitória, o bi nacional com a elegância sutil de Bobô, o surpreendente Vitória de 93, os dramas de rebaixamentos do Tricolor, o trágico capítulo final. Centenas de histórias vistas de milhares de pontos de vistas. No final, cada um tem a sua própria história da Fonte Nova.
O GLOBOESPORTE.COM ouviu diferentes pessoas. Famosos e desconhecidos. Rubro-Negros, tricolores, ypiranguenses, galicianos. Crônicas da vida privada de quem ajudou a escrever uma longa história da relação com um estádio e agora se prepara para um novo e mais moderno capítulo.
De volta ao passado: Fonte Nova foi implodida em agosto de 2010 (Foto: Lúcio Távora / Ag. A TARDE)
A primeira vez é inesquecível: Luís Alberto, volante do Vitória
É um dos estádios mais legais em que já joguei. Todo jogador nascido na Bahia ou criado nas categorias de base de clubes baianos sempre sonhou em um dia jogar lá com estádio lotado. Eu já tinha jogado muitas vezes na base, mas nunca me esquecerei do meu primeiro jogo como profissional. E foi justamente minha estreia no time principal: no dia 14 de abril de 2002, Bahia x Confiança (SE), pela Copa do Nordeste. Além de ter vencido o jogo por 10 a 2, ainda fiz um gol de cabeça. Outro momento que ficou marcado para mim foi aquele Bahia 1 x 2 Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro de 2003, em que o goleiro Julio Cesar saiu jogando sozinho e ainda chutou a bola nas costas do zagueiro. Naquela partida eu também estive em campo e me lembro de como as torcidas estavam empolgadas. A Fonte Nova estava lotada e nós, dentro do campo, não conseguíamos ouvir direito o que um falava para o outro de tanto barulho que vinha das arquibancadas. Foi muito legal ter vivido a época da antiga Fonte Nova e, acima de tudo, ter jogado lá. E agora, após anos no exterior, retornei ao futebol baiano e terei o prazer novamente de voltar lá e ver de perto a beleza que ficou a nova Fonte Nova. Tenho certeza que eu irei me emocionar ao chegar no novo estádio. Vai ser de arrepiar. E espero fazer um gol para o Vitória e deixar o estádio marcado na minha vida novamente.
Implosão encerrou o ciclo da antiga Fonte Nova (Foto: Ag. A Tarde)
Na lembrança do artilheiro: Obina, atacante do Bahia
Meu momento mais marcante na Fonte Nova foi em uma das partidas que eu fiz, no Ba-Vi, final do Baiano de 2004. Acabei empatando a partida. Estávamos perdendo, e fiz o gol do empate. Tenho boas lembranças. Agora, pelo lado do Bahia, espero fazer gols e ajudar o Bahia a sempre vencer dentro da Fonte Nova. Naquele Campeonato Baiano, estava tão dificil que acho que com sete gols fui o artilheiro. Foi muito complicado naquele ano. Espero melhorar essa média. Espero que, junto com o título, venha a artilharia. Primeiro o título e depois fazer o máximo de gols possível para ficar com a artilharia.
As primeiras lembranças: Jorge Allan, comentarista da TV Bahia
Meu primeiro contato com a Fonte Nova foi lá pelos idos de 1969. Menino ainda, meio tabareuzinho vindo de Maraú para a cidade grande. Fui morar no Matatu. Um de meus irmãos mais velhos (Tetero) sempre me levava para a Fonte Nova – sempre andando, era ali pertinho, as ruas eram seguras. Ele era Bahia e só me levava para ver jogos do Bahia. Na minha rotina infantil tinha escola (ê saudade do Colégio Bom Jesus dos Milagres, minha primeira escola, lá no Largo dos Paranhos, no Matatu) e Fonte Nova, aos domingos à tarde e quartas-feiras à noite. Mas a minha primeira lembrança vem da inauguração do anel superior, em 1971. Assistimos ao primeiro jogo (Bahia 1 × 0 Flamengo, gol do cracaço Zé Eduardo) e meu irmão resolveu ir embora quando começou Vitória x Grêmio. Quando aconteceu o acidente, já estava em casa. Depois lembro bem da final do Campeonato Baiano de 1972 – 3 a 2 para o Vitória, que tinha um timaço, com um ataque que, se não é o melhor, é um dos melhores de todos os tempos: Osni, Gibira, André Catimba e Mário Sérgio.
Fonte Nova volta a ser um cartão postal da Bahia
(Foto: Elói Corrêa / Governo da Bahia / Divulgação)
O primeiro drama: Franklin de Carvalho Oliveira Júnior, professor e escritor
No dia da inauguração do anel superior, no dia 4 de março de 1971, muitos fatos inusitados ocorreram. Foi nesse dia que a Fonte Nova teve o seu recorde de público e não no jogo Bahia x Fluminense [partida realizada pelo Campeonato Brasileiro de 1988, apontada como de maior público oficial do estádio: 110 mil pessoas]. O estádio estava “socado” de gente. Depois divulgaram um público de 94 mil pessoas, mas acredito que havia mais de 130 mil, inclusive por terem mandado abrir os portões. Eu acompanhava os jogos aborrecido, porque, o Vitória estava ganhando do Grêmio por um a zero. O Bahia havia vencido o Flamengo, com gol de Zé Eduardo. Eu e meu irmão “Toínho” estávamos sentados na parte de cima da torcida do Vitória quando vimos o mundo vir abaixo em meados do segundo tempo. Não sabíamos quem e como havia começado, apenas víamos um mar de gente correndo e caindo do segundo para o primeiro nível das arquibancadas.
Na torcida do Vitória, todo mundo corria sem saber bem para onde, pois o estádio “balançava” provocando uma verdadeira histeria coletiva, parecendo mesmo que ia cair. Nesse dia eu passei vergonha, porque morri de medo! Abandonei o meu irmão menor e saí correndo, para me pendurar na grade que separava a arquibancada do setor das cadeiras. Enquanto isso, via gente se jogando no fosso e adentrando o campo que já estava quase lotado. A torcida do Vitória esvaziou em poucos minutos. Mas, depois de algum tempo pendurado e com a redução dos tremores, me dei conta do ridículo da minha atitude. Ora, se o estádio fosse cair mesmo, pouco iria adiantar eu estar pendurado na grade! Só aí me lembrei de meu querido irmão, procurando ver onde ele estava. O descobri então um pouco atrás, pendurado como muitos na mesma grade. É que vários imitaram o meu gesto desesperado! Olhei então o estrago à minha volta. Dezenas de milhares de pessoas andando a esmo, outros milhares em campo, muitos estirados, imóveis, outros sendo socorridos, e ainda muitos sendo levados por ambulâncias.
Imaginei então o que nossos pais deviam estar pensando e descemos da grade rapidinho, passamos aos corredores, de onde saímos pelos portões subindo a Ladeira da Fonte de volta pra casa, ali pertinho, na Rua Francisco Ferraro atrás do Colégio Central. No outro dia, porém, o que vi na imprensa não “batia” com o que eu tinha visto no estádio. É que os números da tragédia foram subestimados, falava-se em dois mortos e dois mil feridos! Até hoje se divulga esta versão, mas esquecem que estávamos numa ditadura. Acho, sim, que foi esta a maior tragédia do futebol brasileiro e nunca a esquecerei.
Ficou no quase: milésimo gol do Rei Pelé quase foi marcado na Fonte Nova (Foto: Arte/Globoesporte.com)
Gol e festa em família: Eduardo Neto, zagueiro do Tavriya, da Ucrânia
Minha grande recordação da Fonte Nova aconteceu na Série C de 2007. Estávamos jogando contra o Nacional-PB pela segunda fase da competição. Adílson (lateral-esquerdo) chegou com velocidade pela linha de fundo e acertou um cruzamento perfeito na minha cabeça. Testei com força para dentro do gol e corri para a torcida. De tanta emoção vendo meus pais na arquibancada, corri em direção a eles e dei um bico na bandeira de escanteio. Aquele ano foi complicado, mas conseguimos nosso objetivo: sair da Terceira Divisão. A Fonte me trouxe grandes emoções.
Na Fonte Nova de bermuda e camiseta: Eric Luis Carvalho, repórter do Globoesporte.com
Da velha Fonte Nova transbordam lembranças. Era como uma segunda casa. Lá cresci e aprendi quase todas as lições do esporte. A arquibancada faz bem à vida. A emoção de abraçar desconhecidos, chorar com aquele gol no último minuto, lamentar a derrota, mas, independente do resultado, sair de lá de cabeça erguida e respeitando o próximo. Lições que só o esporte é capaz de nos ensinar. Não sei exatamente qual a primeira vez. Provavelmente nos começo dos anos 90. A última foi no último ato: 25 de novembro de 2007.
Como jornalista faltou oportunidade. Quando passei a trabalhar na área esportiva em 2010, a antiga Fonte Nova já estava fechada. Mas, a partir daí nasceu um novo relacionamento. Vi a velha casa virar pó e, depois, a vi renascer. Mais “higienizada”, “asséptica”, “moderna”, mas ainda Fonte Nova. Em três anos de obras, conheci gente como seu Brasilino, o homem de duas Fontes Novas. Conheci Flor, primeira mulher da obra, que abriu caminho para tantas outras. A cada nova visita, uma surpresa, um encantamento. O certo é que no dia 7 de abril, quando o Ba-Vi dividir meio a meio a nossa maior casa, o coração estará mais uma vez acelerado e pronto para voltar a viver grandes momentos.
Nova Fonte terá um anel a mais do que a antiga (Foto: Vaner Casaes / BAPRESS / / Divulgação)
Emoção até o último minuto: Raimundo Gomes Júnior, micro-empresário
Um jogo que nunca vou esquecer é aquele Ba-Vi de 6 a 5 [partida realizada pelo Campeonato Baiano de 2007, disputada em 22 de abril daquele ano, foi o último clássico da velha Fonte Nova]. Saí de casa e peguei o tradicional engarrafamento de dias de clássicos. Dentro do estádio, vi aquelas torcidas inflamadas e gritando os nomes dos times e dos jogadores. Quando a bola rolou, o Bahia abriu o placar com Danilo Rios em uma cobrança de falta. Fiquei com raiva, mas mantive a esperança que meu Leão viraria o jogo, porque ainda estava no começo. Depois de muita angústia e sofrimento, veio o alívio com gol de Jackson e, logo em seguida, gol de Índio (o carrasco do jogo). Alívio que foi embora minutos depois, com o Bahia virando o jogo com gols de Fausto e Danilo Rios (golaço de falta!). Lembro que nesse dia nem quis sair do lugar que eu estava na arquibancada de tão aflito.
O segundo tempo começou logo com um pênalti para o Leão e convertido por Índio. A partir daí, o Vitória partiu para cima e conseguiu mais dois gols: um de Índio e outro de Apodi. E quando o jogo caminhava para uma vitória tranquila, o Bahia empata em três minutos: gols de Fabio Saci e Rafael. Lembro que, na comemoração, o Rafael Bastos imitou a tradicional flechada que o Índio fazia para comemorar seus gols. Depois do empate, boa parte da torcida do Vitoria, inclusive eu, já estava saindo do estádio quando se ouvem gritos de gols. Voltei correndo e, quando vi, o Índio tinha feito um gol no minuto final. Depois desse jogo, aprendi que, com o Leão, é sempre assim. Tem que acreditar até o fim. A emoção era tamanha que as lágrimas de felicidade escorriam pelo rosto por ter vencido mais um clássico na Fonte “Nossa”, palco de grandes jogos.
Fonte de glórias no campo e na piscina: Raphael Carneiro, repórter do Globoesporte.com
Um fato que não consigo esquecer da Fonte Nova foi o dia da demolição. Já estava trabalhando como jornalista e fui escalado para cobrir a implosão do estádio. Montamos um esquema especial com direito a aluguel de uma casa na proximidades da Fonte Nova. Nas horas que antecederam a ação, enquanto passava informação para os internautas, lembrava das emoções alegrias e tristezas vividas no estádio Octávio Mangabeira. Era naquele concreto que sentava com meu pai e meu avô aos domingos. Um programa de família quase sagrado. Mas minha relação com o estádio ia muito além das quatro linhas – seja como torcedor ou jornalista. Foi ali do lado da Fonte Nova, na piscina olímpica, que vivi grandes momentos de minha vida como nadador. Competições estaduais, norte-nordeste e, até mesmo, regionais. Na piscina, que foi soterrada antes mesmo da implosão, ganhei medalhas, trofeus e fiz amigos. No dia 29 de agosto de 2010, eu vi, de perto, tudo aquilo ir ao chão em segundos. O maior palco do esporte baiano – não só o futebol – se resumia a entulhos. O futebol vai voltar a ter sua casa dentro de pouco tempo. Mas os feitos da natação baiana ficarão somente na memória de uma capital sem piscina olímpica.
Na velha Fonte Nova foi no gol da "Ladeira" que Índio
fez história no épico Ba-Vi de 6 a 5 (Foto: Eric Luis Carvalho)
Derrota histórica: Rafael Bastos, meia do Al Nassr, da Arábia Saudita
Não tenho como negar que a minha maior recordação foi em uma derrota: o histórico Ba-Vi que o Vitória ganhou por 6 a 5, com quatro gols de Índio – a partida ocorreu no dia 22 de abril de 2007 e foi o último Ba-Vi disputado na Fonte Nova. Perdemos, mas estive presente em um jogo que talvez não se repita tão cedo. Foi emocionante para as duas torcidas e algo que eu, como jogador, não vou esquecer nunca. Mesmo perdendo, ainda deixei minha marca no quinto gol da nossa equipe, faltando apenas dois minutos para o fim da partida.
Desejo de mãe, imaginação de filha: Clara Albuquerque, jornalista
Eu não precisei nem sair de casa para que a Fonte Nova entrasse na minha vida. Era 15 de fevereiro de 1989, e o Bahia disputava o primeiro jogo da decisão do Campeonato Brasileiro de 1988 com o Internacional. Eu tinha cinco anos e meu irmão, sete. Meus pais, torcedores do Bahia, não tinham com quem nos deixar para ir ao estádio, mas minha mãe, apaixonada por futebol, queria muito ir. Menos fanático, meu pai, então se ofereceu para ficar em casa comigo e meu irmão enquanto ela gritava, das arquibancadas da Velha Fonte, pelos dois gols de Bobô que garantiriam a vitória ao Bahia. Claro que eu não lembro de muita coisa, mas guardei na imaginação que o lugar para onde minha mãe tinha ido naquele dia só poderia ser mágico. E eu sabia que estava certa antes mesmo de testemunhar pessoalmente aquela magia.
A primeira taça a gente nunca esquece: Rafael Santana, jornalista
Lembro da primeira vez que vi o Bahia erguer uma taça dentro de uma praça esportiva. Foi na velha Fonte, num domingo ensolarado de 2001. A competição era a Copa do Nordeste e o adversário era o Sport. Talvez jogadores baianos e pernambucanos não soubessem, mas aquela partida já estava definida antes mesmo de começar. Era o sentimento de todos os quase 70 mil tricolores presentes no estádio. Por mera formalidade, Preto, com um petardo de fora da área, e Nonato, duas vezes, decretaram o triunfo por 3 a 1. Engraçado que as cores, os cheiros, os sons daquele dia permanecem guardados na minha memória. Pequeno entre gigantes, lembro de ter sido carregado por rostos desconhecidos como se fosse o próprio troféu. Naquele dia todos eram irmãos. E quem disse que os bons tempos não voltam? Seja bem-vinda de volta, Arena Fonte Nova!
A conquista baiana da primeira competição nacional em 1959, a quase marcação do milésimo gol de Pelé em 69, o inédito heptacampeonato estadual do Bahia de Douglas, Beijoca e cia na década de 70, o incrível faro de gol do nigeriano Ricky com a camisa do Vitória, o bi nacional com a elegância sutil de Bobô, o surpreendente Vitória de 93, os dramas de rebaixamentos do Tricolor, o trágico capítulo final. Centenas de histórias vistas de milhares de pontos de vistas. No final, cada um tem a sua própria história da Fonte Nova.
O GLOBOESPORTE.COM ouviu diferentes pessoas. Famosos e desconhecidos. Rubro-Negros, tricolores, ypiranguenses, galicianos. Crônicas da vida privada de quem ajudou a escrever uma longa história da relação com um estádio e agora se prepara para um novo e mais moderno capítulo.

É um dos estádios mais legais em que já joguei. Todo jogador nascido na Bahia ou criado nas categorias de base de clubes baianos sempre sonhou em um dia jogar lá com estádio lotado. Eu já tinha jogado muitas vezes na base, mas nunca me esquecerei do meu primeiro jogo como profissional. E foi justamente minha estreia no time principal: no dia 14 de abril de 2002, Bahia x Confiança (SE), pela Copa do Nordeste. Além de ter vencido o jogo por 10 a 2, ainda fiz um gol de cabeça. Outro momento que ficou marcado para mim foi aquele Bahia 1 x 2 Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro de 2003, em que o goleiro Julio Cesar saiu jogando sozinho e ainda chutou a bola nas costas do zagueiro. Naquela partida eu também estive em campo e me lembro de como as torcidas estavam empolgadas. A Fonte Nova estava lotada e nós, dentro do campo, não conseguíamos ouvir direito o que um falava para o outro de tanto barulho que vinha das arquibancadas. Foi muito legal ter vivido a época da antiga Fonte Nova e, acima de tudo, ter jogado lá. E agora, após anos no exterior, retornei ao futebol baiano e terei o prazer novamente de voltar lá e ver de perto a beleza que ficou a nova Fonte Nova. Tenho certeza que eu irei me emocionar ao chegar no novo estádio. Vai ser de arrepiar. E espero fazer um gol para o Vitória e deixar o estádio marcado na minha vida novamente.

Meu momento mais marcante na Fonte Nova foi em uma das partidas que eu fiz, no Ba-Vi, final do Baiano de 2004. Acabei empatando a partida. Estávamos perdendo, e fiz o gol do empate. Tenho boas lembranças. Agora, pelo lado do Bahia, espero fazer gols e ajudar o Bahia a sempre vencer dentro da Fonte Nova. Naquele Campeonato Baiano, estava tão dificil que acho que com sete gols fui o artilheiro. Foi muito complicado naquele ano. Espero melhorar essa média. Espero que, junto com o título, venha a artilharia. Primeiro o título e depois fazer o máximo de gols possível para ficar com a artilharia.
As primeiras lembranças: Jorge Allan, comentarista da TV Bahia
Meu primeiro contato com a Fonte Nova foi lá pelos idos de 1969. Menino ainda, meio tabareuzinho vindo de Maraú para a cidade grande. Fui morar no Matatu. Um de meus irmãos mais velhos (Tetero) sempre me levava para a Fonte Nova – sempre andando, era ali pertinho, as ruas eram seguras. Ele era Bahia e só me levava para ver jogos do Bahia. Na minha rotina infantil tinha escola (ê saudade do Colégio Bom Jesus dos Milagres, minha primeira escola, lá no Largo dos Paranhos, no Matatu) e Fonte Nova, aos domingos à tarde e quartas-feiras à noite. Mas a minha primeira lembrança vem da inauguração do anel superior, em 1971. Assistimos ao primeiro jogo (Bahia 1 × 0 Flamengo, gol do cracaço Zé Eduardo) e meu irmão resolveu ir embora quando começou Vitória x Grêmio. Quando aconteceu o acidente, já estava em casa. Depois lembro bem da final do Campeonato Baiano de 1972 – 3 a 2 para o Vitória, que tinha um timaço, com um ataque que, se não é o melhor, é um dos melhores de todos os tempos: Osni, Gibira, André Catimba e Mário Sérgio.

(Foto: Elói Corrêa / Governo da Bahia / Divulgação)
No dia da inauguração do anel superior, no dia 4 de março de 1971, muitos fatos inusitados ocorreram. Foi nesse dia que a Fonte Nova teve o seu recorde de público e não no jogo Bahia x Fluminense [partida realizada pelo Campeonato Brasileiro de 1988, apontada como de maior público oficial do estádio: 110 mil pessoas]. O estádio estava “socado” de gente. Depois divulgaram um público de 94 mil pessoas, mas acredito que havia mais de 130 mil, inclusive por terem mandado abrir os portões. Eu acompanhava os jogos aborrecido, porque, o Vitória estava ganhando do Grêmio por um a zero. O Bahia havia vencido o Flamengo, com gol de Zé Eduardo. Eu e meu irmão “Toínho” estávamos sentados na parte de cima da torcida do Vitória quando vimos o mundo vir abaixo em meados do segundo tempo. Não sabíamos quem e como havia começado, apenas víamos um mar de gente correndo e caindo do segundo para o primeiro nível das arquibancadas.
Na torcida do Vitória, todo mundo corria sem saber bem para onde, pois o estádio “balançava” provocando uma verdadeira histeria coletiva, parecendo mesmo que ia cair. Nesse dia eu passei vergonha, porque morri de medo! Abandonei o meu irmão menor e saí correndo, para me pendurar na grade que separava a arquibancada do setor das cadeiras. Enquanto isso, via gente se jogando no fosso e adentrando o campo que já estava quase lotado. A torcida do Vitória esvaziou em poucos minutos. Mas, depois de algum tempo pendurado e com a redução dos tremores, me dei conta do ridículo da minha atitude. Ora, se o estádio fosse cair mesmo, pouco iria adiantar eu estar pendurado na grade! Só aí me lembrei de meu querido irmão, procurando ver onde ele estava. O descobri então um pouco atrás, pendurado como muitos na mesma grade. É que vários imitaram o meu gesto desesperado! Olhei então o estrago à minha volta. Dezenas de milhares de pessoas andando a esmo, outros milhares em campo, muitos estirados, imóveis, outros sendo socorridos, e ainda muitos sendo levados por ambulâncias.
Imaginei então o que nossos pais deviam estar pensando e descemos da grade rapidinho, passamos aos corredores, de onde saímos pelos portões subindo a Ladeira da Fonte de volta pra casa, ali pertinho, na Rua Francisco Ferraro atrás do Colégio Central. No outro dia, porém, o que vi na imprensa não “batia” com o que eu tinha visto no estádio. É que os números da tragédia foram subestimados, falava-se em dois mortos e dois mil feridos! Até hoje se divulga esta versão, mas esquecem que estávamos numa ditadura. Acho, sim, que foi esta a maior tragédia do futebol brasileiro e nunca a esquecerei.

Minha grande recordação da Fonte Nova aconteceu na Série C de 2007. Estávamos jogando contra o Nacional-PB pela segunda fase da competição. Adílson (lateral-esquerdo) chegou com velocidade pela linha de fundo e acertou um cruzamento perfeito na minha cabeça. Testei com força para dentro do gol e corri para a torcida. De tanta emoção vendo meus pais na arquibancada, corri em direção a eles e dei um bico na bandeira de escanteio. Aquele ano foi complicado, mas conseguimos nosso objetivo: sair da Terceira Divisão. A Fonte me trouxe grandes emoções.
Na Fonte Nova de bermuda e camiseta: Eric Luis Carvalho, repórter do Globoesporte.com
Da velha Fonte Nova transbordam lembranças. Era como uma segunda casa. Lá cresci e aprendi quase todas as lições do esporte. A arquibancada faz bem à vida. A emoção de abraçar desconhecidos, chorar com aquele gol no último minuto, lamentar a derrota, mas, independente do resultado, sair de lá de cabeça erguida e respeitando o próximo. Lições que só o esporte é capaz de nos ensinar. Não sei exatamente qual a primeira vez. Provavelmente nos começo dos anos 90. A última foi no último ato: 25 de novembro de 2007.
Como jornalista faltou oportunidade. Quando passei a trabalhar na área esportiva em 2010, a antiga Fonte Nova já estava fechada. Mas, a partir daí nasceu um novo relacionamento. Vi a velha casa virar pó e, depois, a vi renascer. Mais “higienizada”, “asséptica”, “moderna”, mas ainda Fonte Nova. Em três anos de obras, conheci gente como seu Brasilino, o homem de duas Fontes Novas. Conheci Flor, primeira mulher da obra, que abriu caminho para tantas outras. A cada nova visita, uma surpresa, um encantamento. O certo é que no dia 7 de abril, quando o Ba-Vi dividir meio a meio a nossa maior casa, o coração estará mais uma vez acelerado e pronto para voltar a viver grandes momentos.

Um jogo que nunca vou esquecer é aquele Ba-Vi de 6 a 5 [partida realizada pelo Campeonato Baiano de 2007, disputada em 22 de abril daquele ano, foi o último clássico da velha Fonte Nova]. Saí de casa e peguei o tradicional engarrafamento de dias de clássicos. Dentro do estádio, vi aquelas torcidas inflamadas e gritando os nomes dos times e dos jogadores. Quando a bola rolou, o Bahia abriu o placar com Danilo Rios em uma cobrança de falta. Fiquei com raiva, mas mantive a esperança que meu Leão viraria o jogo, porque ainda estava no começo. Depois de muita angústia e sofrimento, veio o alívio com gol de Jackson e, logo em seguida, gol de Índio (o carrasco do jogo). Alívio que foi embora minutos depois, com o Bahia virando o jogo com gols de Fausto e Danilo Rios (golaço de falta!). Lembro que nesse dia nem quis sair do lugar que eu estava na arquibancada de tão aflito.
O segundo tempo começou logo com um pênalti para o Leão e convertido por Índio. A partir daí, o Vitória partiu para cima e conseguiu mais dois gols: um de Índio e outro de Apodi. E quando o jogo caminhava para uma vitória tranquila, o Bahia empata em três minutos: gols de Fabio Saci e Rafael. Lembro que, na comemoração, o Rafael Bastos imitou a tradicional flechada que o Índio fazia para comemorar seus gols. Depois do empate, boa parte da torcida do Vitoria, inclusive eu, já estava saindo do estádio quando se ouvem gritos de gols. Voltei correndo e, quando vi, o Índio tinha feito um gol no minuto final. Depois desse jogo, aprendi que, com o Leão, é sempre assim. Tem que acreditar até o fim. A emoção era tamanha que as lágrimas de felicidade escorriam pelo rosto por ter vencido mais um clássico na Fonte “Nossa”, palco de grandes jogos.
Fonte de glórias no campo e na piscina: Raphael Carneiro, repórter do Globoesporte.com
Um fato que não consigo esquecer da Fonte Nova foi o dia da demolição. Já estava trabalhando como jornalista e fui escalado para cobrir a implosão do estádio. Montamos um esquema especial com direito a aluguel de uma casa na proximidades da Fonte Nova. Nas horas que antecederam a ação, enquanto passava informação para os internautas, lembrava das emoções alegrias e tristezas vividas no estádio Octávio Mangabeira. Era naquele concreto que sentava com meu pai e meu avô aos domingos. Um programa de família quase sagrado. Mas minha relação com o estádio ia muito além das quatro linhas – seja como torcedor ou jornalista. Foi ali do lado da Fonte Nova, na piscina olímpica, que vivi grandes momentos de minha vida como nadador. Competições estaduais, norte-nordeste e, até mesmo, regionais. Na piscina, que foi soterrada antes mesmo da implosão, ganhei medalhas, trofeus e fiz amigos. No dia 29 de agosto de 2010, eu vi, de perto, tudo aquilo ir ao chão em segundos. O maior palco do esporte baiano – não só o futebol – se resumia a entulhos. O futebol vai voltar a ter sua casa dentro de pouco tempo. Mas os feitos da natação baiana ficarão somente na memória de uma capital sem piscina olímpica.

fez história no épico Ba-Vi de 6 a 5 (Foto: Eric Luis Carvalho)
Não tenho como negar que a minha maior recordação foi em uma derrota: o histórico Ba-Vi que o Vitória ganhou por 6 a 5, com quatro gols de Índio – a partida ocorreu no dia 22 de abril de 2007 e foi o último Ba-Vi disputado na Fonte Nova. Perdemos, mas estive presente em um jogo que talvez não se repita tão cedo. Foi emocionante para as duas torcidas e algo que eu, como jogador, não vou esquecer nunca. Mesmo perdendo, ainda deixei minha marca no quinto gol da nossa equipe, faltando apenas dois minutos para o fim da partida.
Desejo de mãe, imaginação de filha: Clara Albuquerque, jornalista
Eu não precisei nem sair de casa para que a Fonte Nova entrasse na minha vida. Era 15 de fevereiro de 1989, e o Bahia disputava o primeiro jogo da decisão do Campeonato Brasileiro de 1988 com o Internacional. Eu tinha cinco anos e meu irmão, sete. Meus pais, torcedores do Bahia, não tinham com quem nos deixar para ir ao estádio, mas minha mãe, apaixonada por futebol, queria muito ir. Menos fanático, meu pai, então se ofereceu para ficar em casa comigo e meu irmão enquanto ela gritava, das arquibancadas da Velha Fonte, pelos dois gols de Bobô que garantiriam a vitória ao Bahia. Claro que eu não lembro de muita coisa, mas guardei na imaginação que o lugar para onde minha mãe tinha ido naquele dia só poderia ser mágico. E eu sabia que estava certa antes mesmo de testemunhar pessoalmente aquela magia.
A primeira taça a gente nunca esquece: Rafael Santana, jornalista
Lembro da primeira vez que vi o Bahia erguer uma taça dentro de uma praça esportiva. Foi na velha Fonte, num domingo ensolarado de 2001. A competição era a Copa do Nordeste e o adversário era o Sport. Talvez jogadores baianos e pernambucanos não soubessem, mas aquela partida já estava definida antes mesmo de começar. Era o sentimento de todos os quase 70 mil tricolores presentes no estádio. Por mera formalidade, Preto, com um petardo de fora da área, e Nonato, duas vezes, decretaram o triunfo por 3 a 1. Engraçado que as cores, os cheiros, os sons daquele dia permanecem guardados na minha memória. Pequeno entre gigantes, lembro de ter sido carregado por rostos desconhecidos como se fosse o próprio troféu. Naquele dia todos eram irmãos. E quem disse que os bons tempos não voltam? Seja bem-vinda de volta, Arena Fonte Nova!
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